Ab aeterno

As minhas boas vindas a todos os que por aqui passarem. Espero que apreciem o que vos dou aqui. Os desenhos, as fotografias e os textos que publico são da minha autoria (caso não sejam eu mencionarei).

Usufruam.


quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O Desígnio do Homem

,
Da terra infértil uma flor brotou
Do céu plúmbeo um raio floresceu
Das chamas uma gota caiu
Do ódio uma centelha surgiu
E o negrume deu lugar à luz

As Eras foram passando
Compostas por milénios, centenários, séculos, décadas, anos, meses
E por fim…dias
E o que outrora fora vencido
Dos rios do esquecimento começa a surgir

“Oh mundo corrompido…!
Pensam que és forte
Mas que quererão eles?
Eles são tantos…
E tu? Tu és somente um.”

Da terra infértil uma flor brotou
Do céu plúmbeo um raio floresceu
Das chamas uma gota caiu
Do ódio uma centelha surgiu
E o negrume deu lugar à luz
Mas…passado um pouco moldou-se o Homem.

“Oh pobre de ti!
Criaturas malfadadas de existência ignóbil
Execráveis, tolos…
Tudo pela ambição desenfreada.
Mas…oh…não chores
Eu tomarei conta de ti.”

“Querereis que vos conte?
Eu, pobre Guardião contar-vos-ei então,
E desenganem-se se julgais blasfémia o que digo.”

“Há muito muito tempo,
Tempo que nunca conseguirão imaginar com as vossas mentes limitadas
Da terra infértil uma flor brotou
Do céu plúmbeo um raio floresceu
Das chamas uma gota caiu
Do ódio uma centelha surgiu
E o negrume deu lugar à luz
Mas…passado um pouco moldou-se o Homem.”

“Homem…vós sempre fostes criaturas belas, mas a beleza trai por vezes. A sedução como deveis saber é uma arma cruel que nunca vos cansastes de usar. Cruel…cruel como vós criaturas esplendorosas. Antes das vossas mãos tocarem a superfície da terra a maldade pouco era conhecida. É verdade…por vezes existiam pequenos desacatos, mas nada mais que brigas próprias de um mundo imperfeito, logo se resolviam pois a bonança e a paz eram o exilíbris dos habitantes… até chegardes vós.”

“Não vos recordeis, aliás, desconfiareis e não ides acreditar na minha palavra…ainda assim… Antes da vossa existência habitavam o planeta outras criaturas, cada uma com um dom. Dom esse a que se dedicavam em vida: uns entregavam-se a terra, cultivando-a e protegendo-a, outros ao saber, liam os manuscritos e tentavam descobrir sempre mais, outros dedicavam-se à cura, zelando pelo bem-estar de todos e existiam ainda outros ofícios. Porém, apesar de diferentes, todas estas criaturas com aspectos característicos tinham em comum a humildade e a veneração à Mãe Natureza. Ninguém fazia mal a ninguém e todos sabiam que a Mãe era a sua Rainha e por ela zelavam.
O Mundo era um local maravilhoso até vos aparecerdes.
Houve um dia em que o céu habitualmente azul ficou pejado de nuvem negras… era um mau augúrio. Passadas umas horas duas criaturas deslumbrantes, que depois viemos a saber serem da espécie humana, surgiram num trilho junto a uma aldeia. Oh que belas criaturas…e afáveis! Todos gostaram de vós, todos, até eu esqueceram aquele presságio das nuvens carregadas de tristeza.
A verdade é que aqueles dois representantes da vossa raça eram amigáveis e bondosos e nada lhes tenho a apontar, o pior veio depois. Às décadas sobrepuseram-se os séculos e já não me recordo ao certo qual foi a infame geração vossa que iniciou uma Era de trevas no entanto, a verdade foi que aquele homem e aquela mulher tiveram filhos e depois netos e assim uma nova raça edificou-se. E com ela conflitos começaram a despontar… batalhas, guerras pelo poder, e quem eram os protagonistas? Vós pusilânimes desgraçados! Vós! E logo vós que podíeis ter sido os senhores da paz, os reais servidores da Mãe…todas as criaturas venerar-vos-iam se não fosse a vossa estúpida irreverência! Vós não tínheis apenas um dom como os demais, vós fostes abençoados com todos os dons! Puderam ter tudo, mas ainda assim preferiram o nada! Matavam-se, guerreavam por tronos inexistentes e com isso extinguiram outras espécies inocentes preconceituosos néscios…
Agora têm finalmente o mundo aos vossos pés, um mundo desgastado e velho que chora de sofrimento pois vós, vós éreis os eleitos, os seres que iriam assegurar a paz mas, ao que parece preferiram a guerra e agora o mundo lamenta-se: “Em que terei errado quando os criei?”.
O mundo é vosso agora, no entanto está gravemente ferido e a cura não passa de uma utopia…mas eu digo-vo-la na mesma, pelo menos pensareis nisso nem que seja por breves instantes. A cura é a extinção da vossa sede pelo poder, é o aniquilar do vosso tenebroso orgulho.
Vós idiotas repugnantes que matam até aqueles que são vossos pares têm ironicamente como desígnio a morte e sabeis que mais? Ninguém vos lembrará. O mundo padecerá convosco e toda a vossa almejada demanda pela imortalidade de nada valerá, convosco também ela findará. Vós asquerosos assassinos ireis aniquilar o mundo…pois a cada dia que passa ele é mais fraco…”

A terra fértil torna-se árida
As nuvens densas ocultam o Sol
As chamas consomem a vegetação ressequida
A água escasseia
A centelha esfuma-se para dar lugar ao ódio
A luz é cada vez mais negra
E o Homem é cada vez mais fraco
e de cada vez que julga o contrário essa fraqueza acentua-se.

“Ireis morrer seres inaptos, ireis morrer sós como mereceis num mundo ressequido de tantas lágrimas que verteu por vós. Ireis morrer e desaparecer e ninguém, vivalma alguma jamais vos lembrará.”

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O Mundo das Crianças

(montagem de dois desenhos)

Num dia, há muito tempo atrás
Crianças nasciam

Brincavam, riam ao som do rio
Transpiravam inocência nas suas brincadeiras
Ah como era bela a visão desses pequenas criaturas
Tão puras, tão perfeitas
Eram elas que faziam o Mundo
Eram elas que faziam sorrir os anciãos
Era para elas que as árvores floresciam
Que os pássaros cantavam
E o que o rio corria
Ah como era bela a imagem do Mundo perfeito
Os bosques alegravam-se ao receber aqueles seres tão puros
Era a voz das crianças que reinava
Era a voz delas que conjuntamente com o rio
Com o som das folhas
E com a melodia dos pássaros
Compunha o mundo
E que Mundo magnificente
Que Mundo majestoso, cândido
Ele pertencia-lhes, era para elas que ele vivia
Eram elas que lhe davam a vida, as preciosas crianças

Agora elas cresceram, envelheceram, morreram
Todavia nunca deixaram de ser aquelas jovens crianças
No espírito de cada uma delas aquela centelha de pureza manteve-se
E hoje elas são esses espíritos selvagens e puros que nos rodeiam
Elas permanecem em cada brisa,
Em cada gota de agua,
Em cada riso,
Em cada olhar de uma criança
Em cada espírito jovem,
Em cada um de nós
E são essas crianças que outrora brincavam nos bosques ao som do rio
Que sustem o mundo na palma das suas mãos
Pois foram elas que o amaram incondicionalmente,
Que com a sua pureza e riqueza de espírito o conquistaram
E assim, foi a elas que o Mundo ofertou a sua sumptuosa alma.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Alegoria do Mago


Em tempos que já lá vão um ainda jovem mago
De olhos da cor do céu e cabelos cor do carvão
Com delicadas e firmes mãos
Fruto da inocente sabedoria ainda apreendida
Tecia seguramente numa renda fina
A ainda prematura teia da vida.
Uma teia imaculada, forte porém delicada
Que aos olhos do Sol sempre reluzia

O mago vivia satisfeito,
Pregava aos rios e ás flores os seus escritos
Consolava o amargurado lobo selvagem,
Cantava aos pássaros ensinando-lhes maravilhosas canções
E à noite cortejava a Lua com doces melodias

Todavia, o tempo encarregou-se
De brincar com o jovem mago
Torturou-o e
Tornou-o num ser deveras sapiente mas um tanto angustiado
Agora, os seus olhos joviais enegreceram-se e
O cabelo ficou grisalho,
A pele encarquilhou,
As mãos ficaram trémulas e cobertas de calosidades
E a renda…! A renda outrora tão firme
Tornou-se desleixada
Descuidada como as mãos do mago.
A teia da vida
Pela velhice e pela amargura ficou marcada
E neste momento, não passa de um mero fio
Suspenso por uma frágil linha
Tecida por um decrépito velho cansado.

E tudo, porque foram escassos os jovens
Que o tempo permitiu deixar ousados
Para que aprendessem a arte da sabedoria
E assim restituíssem a magia,
A jovialidade que a teia da vida tanto aprecia.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Uma Rosa para ti




Venho num passo lento e despreocupado oferecer esta rosa de um cheiro tão doce e de pétalas tão macias ao toque como a seda mais pura.
Eis que o destinatário deste presente é alguém deveras respeitado com quem devemos ter sempre presentes os bons modos, por isso quanto mais me aproximo, o passo despreocupado transfigura-se num passo hesitante, algo receoso pelo que o destinatário achará. Não espero agradecimentos da parte dele, anseio somente agradá-lo com esta bela rosa a que tive o cuidado de tirar os espinhos, não o fosse ofender. E, como dizia não espero agradecimentos, não espero palavras, sorrisos, apertos de mãos e muito menos um abraço ou um beijo no rosto, tenho sim a esperança de ao oferecer-lhe o meu delicado presente possa ver uma pequena centelha nos seus olhos, algo semelhante a um olhar caloroso um pouco inibido, só isso trar-me-ia uma grande alegria.
Nunca o visitei, e isso ainda intensifica mais o meu receio, desconheço o seu aspecto e quanto ao seu carácter baseio-me apenas no que os outros dizem: que não devemos esperar boas recepções pois ele é frio e não convida ninguém a entrar. Porém, nas minhas divagações penso se alguma vez essa gente que fala dele já o visitou e, se realmente o que dizem é fundamentado… mas em breve descobrirei e as dúvidas dissipar-se-ão.
Estou cada vez mais perto, daqui a talvez uns escassos cem metros alcançarei o seu lar. Aperto a frágil rosa na minha mão para que permaneça firme. A razão porque aqui estou é a rosa, hoje de manhã ao olhá-la vi nas pequenas gotas de orvalho que pendiam débeis nela o rosto dele, um rosto um tanto mal tratado, a começar a envelhecer, o cabelo castanho apesar de ainda forte começa a ficar pintalgado de branco e, em redor dos seus claros olhos enigmáticos de um azul esverdeado ou verde azulado (talvez sejam os olhos que lhe dão aquela postura frígida de que as pessoas falam) começam a surgir pequenas rugas. Ele é na verdade um pouco estranho, uma figura misteriosa…contudo, emana um grande poder, só pelo vislumbre no orvalho da sua figura é perceptível a opulência, a sabedoria da quais ele é portador, todavia, também nele se vislumbra um rasgo de tristeza, um amargo sofrimento a que sempre esteve fadado.
Cheguei, basta proferir um cumprimento que ele dará pela minha presença e virá, nem que seja para me mandar embora com um olhar rígido, mas virá. As minhas mãos começam a humedecer de ansiedade. Passo cuidadosamente a rosa de uma mão para a outra de modo a esfriá-las. Depois numa voz que tento que saia calma e segura chamo-o:
- Mundo!
Vejo-o a aproximar-se, direito, compassadamente avança na minha direcção, é uma figura simples, de roupas gastas pelo tempo mas que não lhe retiram nem um pouco da sua dignidade.
- Ora boa tarde – cumprimenta ele. Nada do olhar frigido, da figura rígida. Afinal, tudo isso não passava de boatos de quem nunca o ousou visitar. Ele esboça um sorriso e pergunta se pode ajudar em alguma coisa. Eu, um pouco relutante ainda digo-lhe por fim o que ali me levou:
- Não, vinha somente visitá-lo e oferecer-lhe esta rosa que colhi esta manhã, foi ela que me impeliu a vir até aqui… – e tento também eu esboçar um sorriso, mas sai-me um pouco tímido por ainda não estar à vontade.
No momento em que lhe dei a rosa vi que todos os meus receios tinham sido descabidos. Ele estava ali diante de mim com um sorriso resplandecente que alcançou ainda um brilho maior quando lhe dei a rosa. Como o sorriso também os seus olhos brilhavam, não vi só uma centelha, vi o agradável olhar caloroso que nunca pensei vislumbrar. O Mundo pegou na rosa e num gesto protector afagou-me o braço e sorrindo disse:
- Não era preciso teres me trazido uma rosa, basta que quando me venhas visitar tragas um sorriso genuíno.
Naquele momento ele transformou-se, já não era a figura de cabelos pintalgados pelo cansaço e sofrimento e de rugas nos cantos dos olhos. Desta vez era uma criança, com os mesmos olhos claros de uma cor indecifrável todavia, não transportavam tristeza alguma, estavam cintilantes à luz do dia, o cabelo também já não era grisalho, era de um castanho revigorante e estava todo desgrenhado. As roupas continuavam a ser simples como anteriormente e, na sua felicidade infantil trauteava com os pássaros e brincava num campo verdejante. Enfim, era uma criança feliz.
Depois tudo voltou a realidade, o Mundo retomou àquela figura marcada pelo tempo mas mais ainda pelo sofrimento. Não sei se o que vislumbrei foi o passado ou algo vindouro ou somente uma utopia. Porém, o Mundo pareceu ler-me os pensamentos e, ainda com um sorriso a brincar na sua boca disse numa voz menos audível:
- Pode vir a ser assim, basta uma rosa, uma qualquer flor acompanhadas de um sorriso genuíno, ou então, somente o sorriso sincero por parte da Humanidade…
Então percebi, um sorriso, o quanto baste para tirar o rasgo de sofrimento amargo ao Mundo e torná-lo aquela criança de cabelo desgrenhado que com certeza adoraria brincar com todos nós.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O Guardião da Noite



Eu sou o guardião da noite,
Aquele que vive na escuridão,
Que escuta todos os murmúrios,
Que conhece cada brisa instável,
Que sabe quando o lobo chora,
Quando a sábia coruja proclama
E, quando o jovem riacho está amedrontado.

Eu sou o guardião da noite,
O justiceiro da escuridão
Que guarda cautelosamente a terra e o céu ,
Sou oculto,
Sou a sombra
Que permanece de vigia

Eu sou o humilde pastor de estrelas
E o dedicado amante da lua,
Eu protejo,
Eu vivo,
Eu amo,
Eu sou, no negrume da noite,
O nobre “homem-anjo”.