Ab aeterno

As minhas boas vindas a todos os que por aqui passarem. Espero que apreciem o que vos dou aqui. Os desenhos, as fotografias e os textos que publico são da minha autoria (caso não sejam eu mencionarei).

Usufruam.


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Prisioneiro da Vida



Parecem distantes os tempos que já lá vão. Tempos que na verdade não o são, são tempos próximos, tão próximos como o dia anterior a este.

Tempos próximos mas que jamais se tornaram alcançáveis. Nem sequer réplicas desses dias voltarei a viver.
Dias esses em que sentia o doce sabor do teu beijo, em que podia sentir a tua mão entrelaçada na minha. Dias em que desvendávamos os mais recônditos mistérios da floresta. Em que percorríamos os verdejantes campos cobertos de flores, e, quando encontrávamos uma árvore nos quedávamos junto a ela, desfrutando da sua refrescante sombra e ouvindo a alegre melodia que os pássaros entoavam, enquanto nós, abraçados, proferíamos palavras com significados eternos. Ai, sentia o meu coração cálido, intensamente feliz pelo facto de te ter a meu lado, de poder ouvir o teu riso tão doce e melodioso enquanto galhofávamos por tudo e por nada, apenas porque… como era comprazeroso brincarmos que nem crianças alegres que divulgam por todos essa alegria tão inocente e imperturbável. Felicidade pura era a que nos compartilhávamos, uma união profunda que fundia as nossas almas numa só, uma união inabalável.
Mas agora que tenho eu? Os verdejantes e floridos campos parecem-me secos e murchos. Não consigo sentir o aroma das flores, já nem tenho sequer vontade de as olhar, aquelas cores garridas que antes os meus olhos se deliciavam ao observar enegreceram-se. A minha visão é obscura, não consigo ver nada para além da nefastidade e do sofrimento que me atingiu. Tornei-me surdo perante o mundo, já não oiço os cânticos dos pássaros, eles, aos meus ouvidos silenciaram-se. Já não oiço o efervescente riacho, talvez tenha secado por algum motivo no meu mundo.
Sim, porque agora eu tenho um mundo, um mundo cercado por altos muros, completamente impenetrável onde no seu interior eu me acerco e até a mim próprio me renego. Eu, não passo de um errante que vagueia pelas trevas da vida, por lugares inimagináveis, sítios onde mais ninguém ousa penetrar.
Não passo de um prisioneiro da vida, agrilhoado ao dia à dia sem dele conseguir escapar. Não passo de um deserto sem um único oásis. Eu sou aquela areia seca e árida a que sugaram toda a água. É assim que me sinto, todo o meu tutano foi sugado assim como as minhas lágrimas, que não resistiram à secura do colossal deserto e secaram, não conseguindo nem elas expressar um pouco que fosse da dor que estou a viver. Eu, perdi o meu oásis, onde encho agora o meu coração? A água cessou e eu já não tenho como sacia-lo. Ele está árido e nem sequer uma gota tem para lhe enganar a sede. A verdade é que se esta a desfazer, e tu, já não estas cá para com todo o cuidado e auspiciosamente juntares os seus fragmentos dispersos e reconstruí-lo novamente.
Sou cada vez mais areia, cada vez menos homem. No meu interior, os ventos desérticos tudo assolaram, desmoronaram a minha alma, gelaram-me o coração, roubaram-me até ao âmago e deixaram somente dolorosas recordações. Memórias de ti, fragmentos tão belos e confortáveis que de tão magníficos que são ainda mais me corroem interiormente, por serem precisamente pedaços perdidos que nunca mais voltarão a ser revividos, peças que o vento bera teimou em deixar. Marcas que me visitarão todos os dias o pensamento, que farão a minha alma chorar e o meu coração arder de saudade. Marcas, que ao invés de ti me beijarão cada acordar, cada anoitecer e andarão ainda de mão entrelaçada na minha ao longo de todo o dia. Marcas, vestígios dolorosos que me consumirão e com os quais para sempre viverei, porque um dia, a minha humanidade, a minha medíocre raça não foi suficiente para agarrar a tua alma, enquanto tu, respiravas nos meus braços o último sopro de vida, e eu observava impotente. Tudo, porque nesse dia, nem o meu sumptuoso amor conseguiu desarmar e derrotar a sempre tão vitoriosa morte.

domingo, 28 de outubro de 2007

O Momento


«Um momento não são momentos
Este é o momento
Onde tudo é destruído,
Demolido para ser reconstruído»

Deixa-me voar
Horizontes percorrer
Montanhas cruzar
Viajar sem perceber,
E, finalmente compreender
Sentindo a tua compassada respiração,
O ribombar de cada batida do teu coração,
A tua gentil mão
Acariciando-me sem quase se aperceber,
De mansinho contactando com a minha pele
E eu, sentindo,
Apreciando cada caricia
E retribuindo a blandícia num abraço intemporal,
Num afago eternal
De uma paixão imortal

Sussurro do vento,
Rebentar das ondas,
Aroma da maresia,
Brumas que nos envolvem,
Cenário mágico,
Paz que nos consome,
Silêncio que abafa
Palavras esporádicas,
Distâncias que se quebram,
Inocência que se transforma,
Corações que se renovam,
Felicidade que transborda,
Almas que brilham,
Neste etapa assombrosa

Atalho do sonho
Senda da perfeição
Carreira de excelência
Rumo de exactidão
Esse é o caminho que agora percorro.
Quatro pegadas na delicada areia
Reafirmando a cumplicidade inabalável
De dois corpos que caminham imperturbáveis
Deixando para trás
Num tempo que parece longínquo
As somente duas passadas
Que caminhavam solitárias
Pelas praias abandonadas

Deixa-me permanecer
Viver nesta união
Em que o árduo trilho do passado
Já pode ser suportado.
Em que o presente é a dádiva tão desejada
De poder ser compartilhada,
E o futuro recôndito
Muitas vezes indecifrável
Repleto de dissabores
Será mais facilmente suportável
Somente,
Porque uma vez no meu monótono caminho
Se cruzou comigo este outro ser
Ao princípio desconhecido e até esquisito
Mas que aos poucos se foi transformando,
Ganhando valor com os seus feitos:
Nunca me abandonando
Erguendo-me nos tenebrosos momentos
Dando-me a mão quando caminhava pelas trevas
Abraçando-me nas incertezas,
Dando, até aos momentos amargos
Um toque adocicado.
Este foi o Humano,
Que em todos os aspectos me conquistou
Me transformou
Tornando-se meu amante.
E passámos a ser daí adiante
Duas almas que caminham a quatro passos
Nesta vida que até acarreta felicidade.


quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Nas trevas do ser


Oiço os ruídos da floresta, os animais que murmuram agitados entre si, e, ao longe, o riacho que corre mais agitado que habitualmente.
Hoje vim até ao penhasco, daqui consigo observar tudo, a magnificência da Natureza, mas, apesar do seu esplendor não consigo deixar de sentir a solidão que se apodera de mim.
Aproxima-se uma noite de trevas e escuridão onde nem lua se conseguirá afirmar e será arrebatada pelo céu plúmbeo. Agora, aqui no alto começo a sentir a brisa fria que brinca suavemente com os meus pelos mas que promete, quando se tornar mais intensa, guerrear com eles ao invés da inocente brincadeira.
Cheiro o sopro do vento em meu redor, cheiro as lágrimas e o sofrimento que hoje teimam em vencer-me.
Olho para o céu e vejo-vos. Solto um uivo embargado pela dor que nem as lágrimas conseguem expressar. O uivo ressoa, ressoa pelo ar que o leva até aos mais recônditos ouvidos de quem me ouve. Eu sei que vocês me ouvem, sei que me entendem e que lamentam também.
Eu, apenas desejava sentir-vos sem ser sob a forma de blandícias do vento. Apenas desejava ter-vos aqui para que vencessem a minha mágoa e me transformassem de novo numa criatura feliz. Queria somente ter-vos aqui, sentir o vosso calor real, e, com ou sem palavras sentir o vosso apoio incondicional, a força que vocês emanam. Daria tudo para transfigurar este cenário nefasto.
Quero sentir de novo o abraço revigorante da brisa sem cheirar as lágrimas que ela acarreta. Quero ouvir novamente o chilrear dos pássaros sem o associar a uma triste melodia. Quero mergulhar nas águas do riacho e sentir unicamente a frescura e a vitalidade que ele emana, sem pensar no árduo caminho que ele tem de percorrer. Quero, acima de tudo, que este lugar que vocês deixaram aberto ao partirem se preencha, quero meramente relembrar-vos sem sofrimento, apenas com agradáveis memórias doces.
Enfim, quero voltar a sentir o que é, sem qualquer ressentimento, o delicioso sabor da vida.