Ab aeterno

As minhas boas vindas a todos os que por aqui passarem. Espero que apreciem o que vos dou aqui. Os desenhos, as fotografias e os textos que publico são da minha autoria (caso não sejam eu mencionarei).

Usufruam.


domingo, 28 de outubro de 2007

O Momento


«Um momento não são momentos
Este é o momento
Onde tudo é destruído,
Demolido para ser reconstruído»

Deixa-me voar
Horizontes percorrer
Montanhas cruzar
Viajar sem perceber,
E, finalmente compreender
Sentindo a tua compassada respiração,
O ribombar de cada batida do teu coração,
A tua gentil mão
Acariciando-me sem quase se aperceber,
De mansinho contactando com a minha pele
E eu, sentindo,
Apreciando cada caricia
E retribuindo a blandícia num abraço intemporal,
Num afago eternal
De uma paixão imortal

Sussurro do vento,
Rebentar das ondas,
Aroma da maresia,
Brumas que nos envolvem,
Cenário mágico,
Paz que nos consome,
Silêncio que abafa
Palavras esporádicas,
Distâncias que se quebram,
Inocência que se transforma,
Corações que se renovam,
Felicidade que transborda,
Almas que brilham,
Neste etapa assombrosa

Atalho do sonho
Senda da perfeição
Carreira de excelência
Rumo de exactidão
Esse é o caminho que agora percorro.
Quatro pegadas na delicada areia
Reafirmando a cumplicidade inabalável
De dois corpos que caminham imperturbáveis
Deixando para trás
Num tempo que parece longínquo
As somente duas passadas
Que caminhavam solitárias
Pelas praias abandonadas

Deixa-me permanecer
Viver nesta união
Em que o árduo trilho do passado
Já pode ser suportado.
Em que o presente é a dádiva tão desejada
De poder ser compartilhada,
E o futuro recôndito
Muitas vezes indecifrável
Repleto de dissabores
Será mais facilmente suportável
Somente,
Porque uma vez no meu monótono caminho
Se cruzou comigo este outro ser
Ao princípio desconhecido e até esquisito
Mas que aos poucos se foi transformando,
Ganhando valor com os seus feitos:
Nunca me abandonando
Erguendo-me nos tenebrosos momentos
Dando-me a mão quando caminhava pelas trevas
Abraçando-me nas incertezas,
Dando, até aos momentos amargos
Um toque adocicado.
Este foi o Humano,
Que em todos os aspectos me conquistou
Me transformou
Tornando-se meu amante.
E passámos a ser daí adiante
Duas almas que caminham a quatro passos
Nesta vida que até acarreta felicidade.


quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Nas trevas do ser


Oiço os ruídos da floresta, os animais que murmuram agitados entre si, e, ao longe, o riacho que corre mais agitado que habitualmente.
Hoje vim até ao penhasco, daqui consigo observar tudo, a magnificência da Natureza, mas, apesar do seu esplendor não consigo deixar de sentir a solidão que se apodera de mim.
Aproxima-se uma noite de trevas e escuridão onde nem lua se conseguirá afirmar e será arrebatada pelo céu plúmbeo. Agora, aqui no alto começo a sentir a brisa fria que brinca suavemente com os meus pelos mas que promete, quando se tornar mais intensa, guerrear com eles ao invés da inocente brincadeira.
Cheiro o sopro do vento em meu redor, cheiro as lágrimas e o sofrimento que hoje teimam em vencer-me.
Olho para o céu e vejo-vos. Solto um uivo embargado pela dor que nem as lágrimas conseguem expressar. O uivo ressoa, ressoa pelo ar que o leva até aos mais recônditos ouvidos de quem me ouve. Eu sei que vocês me ouvem, sei que me entendem e que lamentam também.
Eu, apenas desejava sentir-vos sem ser sob a forma de blandícias do vento. Apenas desejava ter-vos aqui para que vencessem a minha mágoa e me transformassem de novo numa criatura feliz. Queria somente ter-vos aqui, sentir o vosso calor real, e, com ou sem palavras sentir o vosso apoio incondicional, a força que vocês emanam. Daria tudo para transfigurar este cenário nefasto.
Quero sentir de novo o abraço revigorante da brisa sem cheirar as lágrimas que ela acarreta. Quero ouvir novamente o chilrear dos pássaros sem o associar a uma triste melodia. Quero mergulhar nas águas do riacho e sentir unicamente a frescura e a vitalidade que ele emana, sem pensar no árduo caminho que ele tem de percorrer. Quero, acima de tudo, que este lugar que vocês deixaram aberto ao partirem se preencha, quero meramente relembrar-vos sem sofrimento, apenas com agradáveis memórias doces.
Enfim, quero voltar a sentir o que é, sem qualquer ressentimento, o delicioso sabor da vida.